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9 de julho de 2006

OS CORONÉIS NA COPA*


A cobertura jornalística dessa edição da Copa do Mundo de Futebol poderia ser abordada por vários ângulos e aspectos. Afinal, o número de emissoras e jornalistas que se deslocaram até a Alemanha foi enorme e a variedade de assuntos abordados também.

No entanto, mais uma vez vou preferir falar de “coronelismo midiático”. Fenômeno presente na mídia brasileira e mundial, onde muitos meios ficam concentrados na mão de poucos grupos, o coronelismo ficou evidente nas transmissões da Copa através da Rede Globo de Televisão.

Detentora de enormes poderes, influências e vastos recursos financeiros, a Globo garantiu o monopólio das transmissões dos jogos, deixando os “pequenos coronéis” das outras emissoras brasileiras babando de inveja. Com as mãos na exclusividade, restava “montar o circo”: dois anos de preparação e 160 profissionais - entre jornalistas, engenheiros e técnicos – deslocados até à Alemanha.

Câmeras exclusivas, entrevistas exclusivas, bobagens exclusivas. Nunca se viu ou ouviu, em tão pouco tempo, tanto besteirol e preconceitos derramados sobre os microfones televisivos. Durante o programa Observatório da Imprensa, exibido na TV Cultura, a jornalista Marinilda Carvalho resumiu bem a cobertura “global”: “Os recadinhos ridículos, grotescos mesmo, a exploração barata da fragilidade de Zagallo, a melosidade de Fátima Bernardes entrevistando jogadores a qualquer hora, dia e noite, ou ancorando o Jornal Nacional em frente ao hotel da seleção, cercada de seus indefectíveis papagaios de pirata, tudo é de embrulhar o estômago.”

Galvão Bueno e sua equipe de comentaristas deram seu showzinho à parte e protagonizaram vários momentos grotescos. No jogo entre Togo e Suíça, por exemplo, o comentarista esportivo Sérgio Noronha afirmou que era um jogo interessante, pois se tratava de uma partida entre "a Suíça, um país civilizado, contra Togo, um menos civilizado" (sim, ele falou isso!).

Criticando tal comentário, o jornalista Daniel de Freitas Moura falou: “Não sei o que esse comentarista entende por ‘civilização’, mas ficou patente, primeiro, o desconhecimento dele em relação à África; segundo, seu caráter preconceituoso e etnocêntrico. Quem é ele para dizer o que é civilizado ou não? O que se aproxima da cultura dele é? O que detém uma grande economia é? Ignorância que o impediu de conhecer a cultura de Togo e o fez externar de maneira absurda seus preconceitos.”

Galvão Bueno é ufanista, perde completamente o senso crítico e beira o ridículo quando narra jogos do Brasil na Copa. Porém, na narração do jogo Brasil x Austrália, extrapolou todos os seus limites. Bueno chegou a mentir descaradamente ao telespectador que assistiu à partida que classificou o Brasil às oitavas: jogadas erradas que se tornavam boas, lances medíocres de Ronaldo não narrados, uma imposição quase doentia desde o primeiro minuto de jogo de que Ronaldo estava jogando bem, quando o país inteiro via que isso era mentira.

O também jornalista, Ricardo Feltrin, caracterizou o episódio como “lamentável” e falou que é “inadmissível” que “uma emissora do porte e da importância da Globo trate de forma tão manipulativa e patética um país tão acostumado com o futebol”.

A importância da Copa na TV pode ser vista em números. Durante alguns jogos, a Globo chegou a registrar média de 63 pontos de ibope (cada ponto vale por cerca de 50 mil domicílios na Grande São Paulo), enquanto Rede TV, Band e Gazeta estavam registrando traço, e o SBT, apenas um ponto. Esses dados mostram a impressionante transformação que a Copa provoca no perfil da audiência da TV brasileira. Daí, mais uma vez, a importância e a responsabilidade que a Globo deveria ter ao fazer as suas transmissões.

“Além da exclusividade da transmissão dos jogos, a Globo comprou também o direito ao jornalismo mais piegas, vulgar e barato da história da imprensa”, dispara radicalmente, Marinilda Carvalho.

Se mais emissoras pudessem transmitir a Copa, mais informações adentrariam nos lares brasileiros e o nível das transmissões obrigatoriamente cresceria, na inevitável briga pela audiência.

Pena que nessas horas não são levados em conta os telespectadores e nem a qualidade da informação que está sendo transmitida e, sim, os montes de dinheiro: ganha quem apresentar o maior.

E nessa briga, advinha quem sai prejudicado no final?


*por Rômulo Maia

3 comentários:

Anônimo disse...

blz o blog, entra lá no nosso

Anônimo disse...

nessa copa do mundo só se salvou quem tem tv por assinatura, e mesmo assim só a ESPN BRASIL, pq a SPORTV (ou seja GLOBO)tbm procurou manter o nível de sua patroa com péssimos narradoers e comentaristas fracos demais, exceção feita a Paulo César Vasconcelos (ex-ESPN BRASIL). o grande problema q percebi é que os caras naum sabem mais distinguir a narração do jogo, que enquanto comunicadores pareceria ser o seu objetivo, ou uma sequência interminável de comentários, que o diga Galvão Bueno, que mais comenta do que narra o jogo, e para piorar ainda fica chamando o telespectador de "amigo"......

Anônimo disse...

Só para corrigir, Daniel de Freitas Moura -que foi citado- ao contrário do que está escrito não é jornalista, e sim estudante de Ciências sociais da UFRJ.